segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A FORÇA DOS NOSSOS PÉS








By Silvana Duboc



Desde o dia em que tu nasceste, eu criei a ilusão, dentro de mim, que poderia caminhar por ti.
Imaginei que colocaria teus pés sobre os meus e te levaria pelos caminhos que eu julgasse mais tranqüilos e seguros. Dessa maneira, tu nunca feririas teus pés pisando em espinhos ou em cacos de vidro e jamais se cansaria da caminhada, nem mesmo precisarias decidir qual estrada tomar. Isso seria eternamente minha responsabilidade.
...e foi assim durante um bom tempo, caminhei por ti, para ti.
De repente, o tempo veio me avisar bruscamente que essa deliciosa tarefa não faria mais parte dos meus dias.
Teus pés cresceram e eu já não conseguia mais equilibrá-los em cima dos meus, daí, quando eu menos esperava eles escorregaram e alcançaram o solo.
Hoje sou obrigada a vê-los trilhar caminhos nos quais os meus jamais os levariam e ainda tento detê-los insistentemente, mas só raríssimas vezes consigo.
Agora só me é permitido correr com os meus junto aos teus e em certos momentos teus passos são tão largos que quase não posso acompanhá-los.
Atualmente, assisto aos teus tropeços sempre pronta para levantar-te das tuas quedas.
Por vezes tu me estendes as tuas mãos em busca de socorro, outras, mesmo estando estirado ao chão e ferido, insistes em levantar-te sozinho por puro orgulho ou para me provar que já és capaz de erguer-te após teus tombos e curar-te de tuas próprias feridas.
Assim vamos vivendo e sinto uma saudade imensurável daquele tempo que precisavas de mim para conduzi-lo, pois era bem mais fácil suportar teu peso sobre meus pés, do que sobre meu coração.
No entanto, já consigo compreender como a vida é sábia. Percebo, finalmente, que em algum momento tu precisaste mesmo desbravar teus caminhos independente de mim, afinal não tarda muito, serei eu que precisarei de teus pés sob os meus e tu só terás forças para me conduzir porque te permiti caminhar por um bom período sozinho, aprendendo assim a difícil tarefa de viver.
Que tu tenhas a resistência necessária para suportar meu peso sobre teus pés como eu tive para suportar os teus.
É bem verdade que farás isso por um tempo inferior ao que eu fiz, mas como eu, é provável que tenhas que fazê-lo com mais alguns pés sobre os teus, os dos teus filhos. Não, claro que não é uma tarefa fácil, mas se eu consegui, tu também conseguirás porque plantei em teu coração o melhor e mais poderoso aditivo para que suportes tanto peso, o amor!



Para as minhas filhas, Alessandra e Vanessa,  com todo o meu amor!









terça-feira, 20 de setembro de 2011

TIVE VOCÊ NA MÃO







By Silvana Duboc



Não fosse o destino
e as voltas que a vida deu
você teria sido meu.
Não fossem tantas encruzilhadas
em longas estradas,
tantas agruras
eu teria sido sua.
Tive você na mão
e hoje só o tenho
dentro do meu coração.
Ali o tranquei
e o porquê eu bem sei,
foi pra não me esquecer
que apesar de não o ter
sua eu sempre vou ser.







segunda-feira, 19 de setembro de 2011

APRENDI A AMAR






By Silvana Duboc


Era tão normal eu sofrer
por amores não correspondidos
que eu acabei por esquecer
que não existem só amores sofridos.
Existe vida após uma decepção,
existe uma nova ilusão,
existe amor e paixão.
Existe vontade de compartilhar
um sonho, um despertar,
um novo jeito de amar.
Existe quem aprecie minhas qualidades
e suporte bem os meus defeitos,
que use de sinceridade
e me ofereça respeito.
Descobri que amores não são só sangrentos,
podem ser calmos embora sedentos,
podem ser como sol, como primavera,
podem ser como a atmosfera
que nos dá oxigênio para podermos respirar
sem medo de sufocar.
Descobri como se ama sem se despedaçar,
o segredo é apenas encontrar
alguém que realmente saiba amar.
Uns não sabem, vários não querem,
alguns não têm essa capacidade,
então aprendi a passar por todos esses
em altíssima velocidade.
Hoje só estaciono meu coração
em terreno que possua grande fertilização. 




quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ERA UMA MENINA E UM MENINO







By Silvana Duboc



Era uma menina e um menino
que nunca se entendiam
mas todos sempre diziam
que aquilo era amor.
Mas como um podia
causar no outro tanta dor?
Dizem que quando se ama demais
tudo fica tão complicado
que é até mesmo capaz
dos sentimentos ficarem misturados.
Uma hora é uma loucura de paixão
e de repente uma tremenda desunião.
Mas dizem, também, que quando é amor de verdade
ele vence qualquer adversidade
e suporta qualquer saudade.
Era uma menina e um menino
que não conseguiam se entender
mas dizem que se amavam pra valer.
A menina não crescia
e o menino não amadurecia,
presos na infância decidiram ficar
pra nunca ninguém os separar.
É porque criança briga, se desentende
mas no fundo se perdoa e se compreende
e gente grande não consegue desculpar
os trancos que costuma levar.
Era uma menina e um menino
completamente apaixonados
que foram rudemente separados
por dois adultos impertinentes
e muito inconsequentes.






terça-feira, 13 de setembro de 2011

DENTRO DOS TEUS BRAÇOS





By Silvana Duboc

Sou como um grão de areia na tua mão
que se perde entre tantos sem distinção.
Sou um pingo de chuva no verão
que escorrega pelo teu coração.
Sou como uma lágrima sem direção
que se confunde em meio a emoção.
Sou alguém em plena multidão
que te busca, te procura,
que te perde e te cura.
Sou quem te faz bem e mal,
sou teu ponto mais fatal.
Sou como uma corda que te prende,
sou alguém que se rende
e não encontra nunca a solução.
Sou a tua alegria e a tua insatisfação.
Sou eu que estou jurada pra morrer 
de tanto amor quando preciso for.
Sou eu que tento entender
e faço de tudo pra ser
teu porto mais seguro
e acabo sendo teu canto mais escuro.
Sou eu que me desfaço e me refaço,
que, junto de mim, te arrasto,
que te sufoco, que te desgasto.
Sou eu que me perco e não me acho
quando não estou dentro dos teus braços.



domingo, 21 de agosto de 2011

BORDANDO PALAVRAS







By Silvana Duboc


Aqui, agora, sem dor 
posso falar daquele amor,
das noites mal dormidas, 
das tantas feridas
que ele abriu em meu coração.
Posso falar daquela paixão 
que rondou a minha alma
enquanto a calma de mim se distanciou.
Hoje, refeita da agonia, eu posso descrever
tudo que eu sentia, aquele turbilhão
de todo tipo de emoção.
Não que eu tenha me curado, 
apenas coloquei de lado
aquelas enormes ilusões 
e entendi que as grandes paixões
sempre terminam em nada 
e somos obrigados a trilhar outras estradas.
Então eu fui, tenho seguido por aí,
mas na verdade nunca te esqueci
e trago aqui dentro as cicatrizes
daqueles momentos que vivi.
Estranhamente gosto de acariciá-las
através destas palavras que insisto em bordar,
estranhamente tento retornar
àquele tempo que não vai voltar, 
onde todas sangravam
e meus olhos encharcados 
pelos teus procuravam.
Te amei, só eu sei o quanto amei 
e a ti nunca contei,
mas eu sei como te amei e te amei tanto
que perdi a lucidez 
e da vida não pude mais ver o encanto,
cega que fiquei pelo meu pranto 
quando de mim tu partiste.
Te amei até que meu coração ruiu,
te amei até a última gota que esvaiu, 
como roupa que se torce
e nada mais tem pra pingar,
te amei até não agüentar
e hoje tenho a certeza de que te amei
muito mais do que a mim mesma.
Te amei com toda beleza, 
amei mais do que eu podia,
muito mais do que eu devia, 
bem além do que eu queria
e agora só me restou, 
depois de todo esse amor
um mero retalho bordado 
com as marcas do passado.




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

TIPOS DE CORAÇÃO





By Silvana Duboc


Tenho conhecido tantos tipos de corações, 
cada um com seus poréns e senões,
com suas riquezas e pobrezas,
com suas particularidades,
com características magníficas
e, muitas, lastimáveis.

Tem o coração de algodão
que de tão fofo parece irmão
que acredita e segura a nossa mão.


Tem o de açúcar que facilmente se desfaz
e pra se reconstituir leva tempo demais.


Tem o coração apagão
que se esconde no meio da escuridão
com receio de sentir alguma emoção.


Tem o coração solitário
que insiste em viver seu calvário.


Tem, também, uma espécie
que deveria ser estudada
se bem que temo que estudo algum dê em nada.


Ele é um tipo de coração duro e oco por dentro,
parece de ferro, de aço,
não amolece em nenhum momento
e se alastra em qualquer espaço.

Nem o mais sincero sentimento
consegue salvá-lo de tanta dureza
e de sua enorme aspereza.


No entanto existe um outro tipo de coração
que alcançou um nível de evolução
que sabe deliciosamente se dar
mesmo quando dúvidas pairam no ar.


Ele possui uma grandeza e uma dimensão
que suporta qualquer traição,
qualquer pequenez vinda de outro coração.


Ele carrega afeto numa proporção
impossível de calcular
e se refaz facilmente de qualquer dor
que possa o afetar.


Ele vive pra esquecer e perdoar
corações que não aprenderam a amar
e que, por isso, vivem uma vida
que a qualquer instante pode desmoronar.


É, tenho conhecido muitos tipos de coração
e nisso tudo sabe o que é bom?


Eu tenho aprendido a respeitar,
entender e aceitar
que nem todos são iguais,
muitos são especiais
e outros infelizes e superficiais.